Corria o ano de 1924, em meio à um bosque perfumado de pinheiros, de uma colina muito distante daqui. Era início de maio e toda a terra ao redor estava iluminada por um suave sol de primavera. Havia flores por toda a parte, e o vento soprava com carinho as pétalas coloridas que enfeitavam os caminhos daquela gente simples e amorosa.
Muitas crianças pequenas brincavam ali por perto, enquanto os adultos cuidavam dos seus afazeres domésticos. Nas oliveiras já brotavam miúdas as pequeninas florações… Promessas de boa colheita e sorrisos nos rostos cansados pela lida do campo.
Uma menina bem pequenina,de olhos castanhos espertos e profundos, com o seu ingênuo sorriso exibia a beleza dos seus 3 anos. E enquanto caminhava ao lado de sua jovem mãe,se distraia, catando pedrinhas pela estrada, ao longo daquele bosque que exalava puro encanto. No horizonte , com a imagem da bela serra azul ao longe, os olhos de sua mãe se perdiam em pensamentos… Estava chegando o dia em que partiriam para uma terra estranha, muito longe daquele amado lugarejo, escondido entre as pedras do tempo. E a saudade já pressentida, incomodava o coração daquela jovem mãe camponesa… Será que na nova terra se esqueceria daquele mundo de simplicidade tão pitoresca?
E enquanto mãe e filha desciam a colina, rumo as estreitas ruas do vilarejo, os olhos tristes daquela moça queriam gravar na memória aquela paisagem tão sua, das casas de pedra, quintais de parreiras de uva, e os jardins floridos, que se misturavam às pequenas e belas oliveiras do caminho… Tudo lhe parecia tão precioso naquele momento!
E virando a esquina perto de casa,tomou a mão de sua garotinha, enquanto um amigo pastor, passava com seu rebanho de ovelhas… Ela acenou para ele, enquanto a menininha ria e se encantava ao ver aqueles bichinhos de aparência bela e doce!
Na chegada à casa, o marido, 12 anos mais maduro que ela, a esperava no portão, com os outros filhos do casal ao redor… Já era quase 5 horas, tempo de se recolher e preparar o jantar da família… E lá se foi ela para o fogão de lenha, escondendo seus pensamentos, medos e dúvidas atrás das brasas e da quentura daquele fogo acolhedor.
Esta pequenina e singela estória que contei acima, é baseada na estória real de minha própria família. A jovem mãe e sua filhinha, retratam o início da jornada de meus bisavós, avó materna e alguns de seus irmãos (outros ainda nasceriam brasileiros) rumo à uma nova vida aqui no Brasil, onde chegaram em meados de 1924, quando minha avó tinha apenas 3 anos.
E este meu post nostálgico de hoje é fruto real das minhas ternas lembranças e das saudades da minha avó Fernanda, que era pessoa maravilhosa,de alma iluminada e feliz, que tantas alegrias e carinho deu à nós, seus netos… Tudo agora parece mais vivo em minha memória, acalentada por nossa recente viagem às belas terras portuguesas,neste início de maio.
Há muito tempo planejávamos fazer esta “viagem às avessas”, uma espécie de ”retorno” no tempo, voltando à terra natal dessa parte tão querida de minha família.
E posso dizer que simplesmente me encantei com esse lugar tão belo e genuíno, cujas lembranças ficarão sempre no meu coração… Uma pequenina cidade de ares medievais, onde as estórias de seu povo estão encravadas nas ruas estreitas e seus muros e casas de pedras, que resistem bravamente à ação do sol,da chuva, do vento e à maldade de tantos homens… Um lugar repleto dos rastros humanos ancestrais… Povos íberos e celtas habitaram por lá… Depois vieram os romanos, os árabes… E todos deixaram suas marcas pelas esquinas do tempo…
Mas sei que nem minhas palavras e nem nossas imagens , têm o poder de expressar toda a essência desse lugar encantado, cuja geografia à transformou numa varanda natural para a linda Serra da Estrela… Somente quem caminha por aquelas antigas ladeiras, tocando em suas milenares pedras e falando com seu pacato povo , poderá decifrar o calor da alma daquela gente valorosa e acolhedora, e conhecerá o verdadeiro espírito daquela terra preciosa, tão repletas de estórias e beleza natural !
“ Gente rude e valente,como as rochas dos seus montes, mas franca e leal como a transparência luminosa do seu céu e a pureza cristalina das suas águas…” ( do livro “Terras de Algodres” do Monsenhor José Pinheiro Marques)
E no correr dessa minha estória de família, entre as aventuras de esperançosos imigrantes, faço aqui uma homenagem sincera à todas as avós e mães deste Brasil, que na sua coragem cotidiana, ajudam a constuir um futuro de esperança para as próximas gerações de brasileiros!
Deus abençoe cada uma dessas nossas virtuosas mulheres!
Beijos doces no coração de vocês!!!!!!!!
Teresa
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